domingo, 24 de novembro de 2013

Um simples pensamento

Eu vivo de simplicidade.
Simplicidade, parcimônia, navalha de Occam.
Sinônimos.
Fico com simplicidade.
Por ser simples.
Mas gosto de navalha de Occam.
Por ser objetivo na subjetividade simbólica.

Sou o simples.
Estou simplicidade.

Eu vivo de simplicidade. Escolhi cortar o desnecessário e muitas vezes, como nos apegamos ao desnecessário. Atrelamos nosso ser ao supérfulo e até o nomeamos de personalidade. Simples e objetivo. O que não me acrescenta nada positivo, cortei; O que me acrescenta algo de positivo e que ainda sim julgo demasiadamente trabalhoso, também cortei! Fiz do fio da navalha parceira e da vida, fiz música. A cada nota dançada, fui dilacerando-me. Hoje sou o bruto, o simples e o objetivo. Muitos diriam que eu perdi o brio, que perdi a sensibilidade, que estou até menos interessante. Que seja! Já eu digo que estou simplicidade.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Vermelho Dicotômico


Kurt Schwitters


Ai como eu quero apertar aquele botãozinho vermelho! Aquele botãozinho vermelho que no meio de todos os outros pretos, é vermelho! Botãozinho que não pode ser apertado, mas que também qualquer um não pode deixar de não pensar em apertá-lo. Entendeu? É um botão, é vermelho e posso não apertá-lo, mas sempre hei de querê-lo apertar!


Botãozinho vermelho que mexe comigo, mexe com minha cabeça e que eu não posso mexê-lo. Hipnotiza minha mente e desce para o úmero e alastra pelo cúbito e rádio e atrai minhas falanges. Seduz meus músculos a tocá-lo! Botão, maldito botão, vermelho numa vermelhidão! Tão belo e tão vermelho. Explodirá? Ejetará? Auto-destruirá?


Botão vermelho que me faz suar, transpirar numa ansiedade. Aperto? De leve, senti-lo, degustá-lo, tão liso, tão apertável e tão vermelho. Sirenes? Explosão? Aflição. É um botão, foi feito para ser apertado, mas e o vermelho? Porque vermelho? Porque só este é vermelho? Vou apertar! Não, não, vou esbarrar, sem querer!- sem querer vou esbarrar neste botão vermelho! Estão olhando? Câmeras? Alguém? só eu e o botão e o vermelho? Ai que vermelho!


Sem digitais, pra quê digitais? Digitais não! Vou esbarrar sem deixar digitais! Com o olécrano, de leve, de susto, por cima da blusa e sem digitais. Não! Preciso senti-lo, sentir o vermelho. No três. Um, dois, não... Eu corro? Esbarro no botãozinho vermelho e corro? Vou correr! Um, dois, dois e meio e, corro no três ou corro no já? No três! Um, dois, e e e, três! Mas corro pra onde? Certo, sem corrida. Esbarro no botão vermelho no três e não corro! Sirenes? Explosão? Ejeção?


Sem contar, sem correr, só apertar! Apertar o botão vermelho e só. Vou apertar! Não? Tudo bem, não vou apertar! Eu quero apertar, é vermelho e é um botão! Apertarei! Tão pequenino, imponente, sobressalente. Numa imensidão sem cor, um rubro que destoa. Quer ser apertado, botãozinho vermelho? Vou apertá-lo! Respiração ofegante, pulso acelerado... é tenho que apertar! Que som é esse? Só isso botão vermelho? Esse discreto som? “Pois não senhor, o elevador está com problemas?”

- Não, não, apenas esbarrei neste botão. Me desculpe!


Maldito botão, maldito elevador, maldito vermelho!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A sensatez não é de senso

Marcel Janco 1916

Quem é vivo sempre re-escreve, mas com absoluta certeza, quem me lê, me conhece, me vê e sabe que ainda vivo, mesmo nestes dias bucólicos de chuva. Isso mesmo, chuva! Apesar de não ser viva, resolveu re-aparecer. Mas não me apeteço de chuva como muitos deste Planalto Central, que há meses investigavam o contínuo azul do céu em busca de uma cinzenta nuvem. “Ali ó, ali, algo cinza no céu!” e era fumaça, e era incêndio e era o calor esquentando as idéias. Mas novamente, não é a chuva ou a falta dela, que me aflige, pelo menos, não o suficiente para eu vir gastar papel. Pessoas! Pessoas são sempre as responsáveis por eu vir, sentar e derramar minhas aflições.

Pessoas são seres pomposos de vazio. Quanto mais vazio lhe é possuidora, mais gostam de desfilar. Entenda-se vazio como aquilo que falta. Como gostam de esbanjar o que lhe faltam. Se são pobres, passam por ricos; se possuem dúvidas sobre a masculinidade, tornar-se-ão preconceituosos pois é a solução. E assim podemos exemplificar por horas. A dita, lógica inversa, a que contraria o senso comum, impera nos homens. E advinha? Isso é tão senso comum. Se queres mostrar que tens dinheiro, durma na simplicidade, se queres mostrar que és mais homem do que é, acomode-se na tolerância.


Contraditoriamente, ser senso comum não é algo bom, é algo ruim, muito ruim. E é contraditório porque vivemos em uma homogeneização cultural. Um dos efeitos colaterais da internet é justamente isso. Algo que foi feito aqui, pode repercutir em todo mundo e assim, cria-se uma cultura mundial. Idéias, comportamentos, gostos, tudo é compartilhado, tudo é consumido. Concomitantemente, a globalização de marcas, produtos e serviços contribuiu ainda mais para a criação da cultura “internética” mundial. Ver, saber e gostar de McDonald’s não é o suficiente para estar inserido, é necessário que se “viva” o McDonald’s, assim como o americano, o chinês e assim vai.

Esquecendo toda esta parte técnica, ser senso comum é de senso comum, ruim. Para tentar buscar a individualidade, percebo comportamentos, no mínimo, curiosos. A valorização da desgraça peculiarmente, me chama a atenção. Como títulos de nobreza, as pessoas exibem, exaltam doenças que em suas cabeças, as tornam únicas. “João, o bipolar”, “Bárbara, a que tem duas vezes mais chance de ter câncer intestinal”. E se não vira um pomposo jogo de títulos, torna uma competição, “Tenho rinite e refluxo, dois pontos pra mim”, “Já eu, sou bipolar, tenho depressão e uma unha encravada!”, “É realmente você ganhou com a unha encravada...”. É bom deixar claro que as pessoas só gostam quando a doença não mata, tem um estranho nome e o status é maior quando as patologias obrigam-nas a tomar algum remédio, pois a bonança é o remédio e de brinde, além da individualidade, ainda barganham por um pouco de pena alheia.


Ah o ser humano, o ser único humano! Tudo isso, lembra-me um herói grego, é na fuga do destino que o destino é armado. Na ânsia de ser anti senso comum é que o vulgar é construído. Da lógica reversa aos “games patológicos”, resta-nos o senso comum de sermos sensatos!

terça-feira, 10 de maio de 2011

Contra o contraste


Música Recomendada

Depois de algum tempo, muito tempo, quase um tempo geológico, voltei a escrever. Retorno para labutar sobre o contraste e como disse o poeta, “Falar do que não gosta, por ventura, traz o gostar à cabeça”. Não sei se é exatamente isso, mas falar do que difere de você, de uma forma ou de outra, não traz os holofotes para si. Não também, que cada um é apenas o que gosta, mas quando fala do que não gosta, concentra as críticas em um ponto, em uma pessoa ou em algo que não necessariamente, é você, mas que provavelmente, não é!

Confuso? Nem tanto, mas o que eu não gosto e irei discorrer sobre, é mais uma de tantas características das pessoas e minha própria, que me fizeram trabalhar com plantas e animais, sim estou excluindo todos os futuros seres que por azar de acontecimentos probabilísticos, serão meus alunos. Como diria um conhecido: “Na cadeia alimentar, vale mais uma bactéria que cicla os nutrientes que um aluno que parasita seu professor”. Por conseqüência, não posso e nem poderei imaginar meus futuros alunos como pessoas, como pensantes, até porque eu mesmo, na conjuntura do meu conhecimento, sei que uma bactéria vale mais do que esse fétido eu. Retomando o fio de pensamento, o que eu não gosto e me motiva a escrever sobre, e olha que para me motivar eu realmente tenho que não gostar, é a minha, a sua e a capacidade de todos de se conformarem com a situação e tecerem uma rede de desculpas para tal.


É no mínimo cômico conformarmos com nossa realidade, nossa situação, nossa capacidade. É como se a criatura dominasse o criador, como se mandássemos em deus, vendendo parte do céu... espera aí, isso já acontece o_O! Para mim, realidade é o conjunto de escolhas, mais ou menos influenciadas por fatores externos a nós, que vivemos cotidianamente. É muito simplista, mas considere esta definição para caráter didático apenas. E cada escolha, nos aprisiona e a escolha seguinte, nos aprisiona ainda mais, nos distanciando ainda mais, da escolha primordial e lê-se primordial neste contexto, como sendo a primeira, a que originou tudo. Não sei se compartilhas de minhas idéias, mas não há nada sem volta, exceto filho, data de validade e morte! O resto pode ser feito e desfeito.


Mas não é isso que acontece. As pessoas são chatas, monótonas, tornam-se prisioneiras de suas escolhas, dos caminhos que escolheram trilhar e para esquivarem da culpa de não ter para si as rédeas de suas próprias vidas, inventaram nomes bonitinhos e até refinados, como destino, como coerência e outras tantas necessidades que não co-existem para a real necessidade de existirmos, a felicidade. Realmente, acredito que para 51% serem felizes, 49% terão que ser infelizes, parece cruel e pessimista, mas muito sentido faz, olhando para os que não carecem do mesmo nível de vida de que esbanjamos.


“Desculpa” é uma palavra no mínimo curiosa. Inicialmente utilizada para o culpado buscar o perdão. Há algum tempo, ganhou também o significado de configurar a tentativa deste de responsabilizar outro que não ele, de ser o responsável pelo feito. E a curiosidade é que a palavra escolhida pelo culpado, como ele, tem culpa, “des-CULPA”. E não importa a desculpa no singular ou no plural, utilizada pelas pessoas, mas sempre ela preferirá não se responsabilizar, mesmo que para isso tenha que duvidar de si próprio, de suas capacidades, de aceitar seus defeitos, do que fazer-se dono de si, de se re-inventar, re-modelar, “desescolher” e escolher tudo novamente.


Muitos se gabam por serem coerentes e não sei você, mas se me chamarem de coerente, não gostarei nenhum pouco. Coerência para mim é o grande eufemismo para manter-se inalterável dia pós dia. Como se não descobrissem algo novo a cada amanhecer, como se não percebesse o erro e o defeito, como se dormisse e acordasse sempre o mesmo. E por assumir que deito um e acordo outro que a comodidade me irrita. Devo assumir que estou constantemente em uma metamorfose e que minha realidade-ótima de ontem não será a mesma realidade-ótima de amanhã. Devo admitir que amanhã, julgarei errôneo o que escolho hoje. E a não ser que seja um filho, uma produto vencido ou a morte, eu poderei sim, voltar atrás.


Porque viver é fácil, basta estar vivo e complicar o viver é igualmente fácil. Furto de Vinícius de Moraes as seguintes palavras: “Tristeza não tem fim, felicidade sim”.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Hiperbólica da Retórica

DICA: Leia este texto ouvindo: http://www.youtube.com/watch?v=WwfNexdaIdU ou http://www.youtube.com/watch?v=lBWY3bli92Y&feature=related ...

E é assim, quando quero eu escrevo. Tentar cumprir datas, inspirar-me, nada disso funciona comigo. Escrevo quando quero, quando sinto que tenho chance de transgredir o medíocre e fazer algo muito bom ou muito ruim, mas nunca em cima da média.

Nos nuances da vida, somos aprisionados pela totalidade. Totalidades totalitárias sociais. Somos submergidos em obrigações sociais que para muitos, tornam-se obsessivas. O que se torna mais doloroso, ter-se obrigatoriamente que seguir as convenções do senso comum ou evitá-las e ser julgado, lançado para a marginalização social? Indagação pessimista? Quem sabe.

Quais são as suas prioridades? São suas prioridades ou são nossas? Sirva-se de estereótipos, escolha o seu, torne-se um e procure os semelhantes. Dilúvio de obrigações pré-ditadas e conhecidas. Como se cada conhecido, do mais íntimo àquele rosto conhecido que nunca trocara um palavra, tivessem uma expectativa sobre você. Decepcioná-los-á? Nunca prometera nada, mas não pensam assim. No fundo por uma generalização boçal, esperam que seja como a maioria. Serás como a maioria?

Opções? Muitas, nenhuma a ideal, nenhuma satisfatória. Conhecer, namorar, casar, ter filhos, tentar não separar. Estudar, vestibular, passar, formar, trabalhar, tentar ser rico. E mais quantos outros verbos intermediados por vírgulas, tentam reduzir o viver numa cronologia lógica e ritmada. Opções? Nenhuma! Sorte sua, manter-se-á na zona de conforto. Nela podes julgar e ser pouco julgado, mas quem te conhece? Quantas casas brancas com grandes vitrais terás que construir neste abismo? Quantas famílias perfeitas na imperfeição, terás que fazer ocupar essa escuridão? E quantos empregos ideais substituirão o vazio?

E se nada disso for tua prioridade, faça ser! Pois ao contrário, serás perdido. Pois se for contra, serás louco. Pois se rejeitares, serás mais um estereótipo periférico, bem longe dos holofotes dos “status” de sucesso e beleza, de vida perfeita que passa na tua e na minha televisão. E se até o indigente que mendiga tem uma função, pois você não haverá de ter? Qual a função do mendigo? A mesma do professor. Estranho? Nenhum um pouco. Tal qual um professor, um indigente que tem o papelão como aconchego, a terra vermelha como assoalho e as estrelas como telhas, educa. Uma criança que cruza com um pedinte, pode não saber o que quer ser quando crescer, mas passa, a saber, o que não quer ser.

Vá meu filho, cresça e não seja como este que nos pede uma moeda. Para isso siga as cartilhas, as bulas sociais. Hão de serem muitas!

sábado, 8 de janeiro de 2011

Entre traumas e impressões, a primeira postagem

Meu primeiro post, acho de bom tom eu me apresentar. Quando nasci me chamaram de Marcus Vinícius Forzani e acharam que isso seria minha identidade sem ao menos saberem com o que eu iria me identificar a posteriori. Pois bem, os que me conhecem sabem o quanto gosto de escrever, o que ocasionalmente, eu deixei de fazer com a vida corrida e a preguiça servida. Porém lendo um blog de um grande amigo e tomado pelo ócio das férias, decidi prostrar-me entre a escrita e as idéias novamente, mas fui pego por uma questão boçal, qual será o nome do meu blog?

Poderia simplesmente pegar palavras ao acaso que combinadas, dariam um ótimo status non-sense artístico que é moda. Poderia ser profundo, fazer associações perspicazes, ter um significado sombrio, que poucas pessoas entenderiam e o que também me daria uma certa glória. Pois então, segui nesse caminho, entre o culti e o non-sense artístico.

Sacro do latim significa divino, sagrado, relacionado com deus e religião. Mas também é o nome de um osso do quadril. No fim acaba sendo quase que um trocadilho entre o divino, o inalcançável, o intocável e o visceral, o biológico. Indo um pouco além, se Deus criou a mulher de uma costela de Adão, eu estou em processo de criação de algo um tanto quanto peculiar, oriundo de um Sacro!

E por que nômade? Nômade é dito para aquele que não tem um local fixo ou que vive temporadas curtas em um local e depois que os recursos acabam, procura um novo lugar. E é dessa forma que acontece o fluxo de idéias e pensamentos. Algo efêmero, mutável, mas que também funciona ciclos, sem cabeça ou cauda, sem meio ou fim. Mas também era a condição do homem primitivo, o nomadismo, então acaba que me remete a essência, ao primordial.

Por fim, acho que funcionará assim. Escreverei sobre o cotidiano, sobre o que me ressalta aos sentidos, o que me chama e prende a atenção. E meus textos serão observações, contos, histórias, o que melhor fluir. Espero que em algum momento possa agradar e que em outros momentos, possa incomodar, pois seguramente, na maior parte desses momentos, estarei entorpecido por algo ou alguém.

Não quero alongar-me demais e na essência, é isso. A imagem de fundo é de autoria de Hannah Hock uma artista dadaísta alemã.